Dramática ( Crônica do livro Anáguas)
Sou acusada de dramática desde a infância, mas a acusação se acentuou após a adolescência e ganhou, também, um tom quase ofensivo(apesar de solene) por parte dos acusadores. Talvez tivessem razão e o drama não coubesse à cena ou situação. Talvez ainda não caiba, e sou eu a viver em palcos imaginários pisando em estrelas e fogo.
No passado eu não entendia bem o que era aquele conjunto de gestos e atitudes que afloravam sem controle da razão; primeiro transbordando dos olhos num brilho que se intensificava gradativamente, para depois ir descendo pela boca em cascata, escorrendo pelos braços e torso e pernas e dedos em vapores úmidos e cheios de reflexos para, ao final, bater no solo molhando quem ou o que estivesse por perto! Eu era, de fato, dramática!
Mas a,final, se a gente é para o que nasce, eu não poderia ser diferente.
Minha natureza era dramática, intensa e apaixonada.
Drama significa ação. Não seria possível viver sem ele, viver sem ação.
Se for necessário um confronto entre o que está dentro e o que está fora da gente, a ação é justamente a vazão para a crise, e por fim sua solução. Portanto, uma boa dose de drama é também uma boa dose de lucidez e inteligência.
Continuei dramática... e confesso que ainda sou acusada com freqüência,mas não me incomodo, pelo contrário, sei que não fugi a minha natureza e que o drama confere até um certo charme aos meus dias, por vezes comezinhos e monótonos, e que me mantém atenta e viva sobre o que deve ser confrontado.
Não há como ser intensa e dramática para os gestos que agradam e ser tolhida e contida nos momentos em que a mesma intensidade não é agradável na convivência. Somos um pacote só, inteiros.
No gesto dramático somos nossa própria existência, somos todas as vidas num só momento, pura essência, uma força mesmo da natureza.
Hoje,aprendi a deixar a alma na gaveta de vez em quando, quem aguentaria toda uma existência numa só cena?
Com o tempo acrescentei um bocado de comédia, que sem humor até a tragédia sucumbe pela falta de contrastes.
Com as dores e alegrias que transformaram meus dias no que são, eu sou ainda inteira, mas deixo pra reunir minhas muitas metades só em confiança.
E sigo intensa e densa, mas um pouco mais comedida e um tanto desconfiada. Afinal, de corpo e alma, entregue, dramática, inteira... só para os poucos que nos apreendem, percebem e alcançam.
Drama ou Tragédia
Comédia
É difícil analisar, cientificamente, o que faz uma pessoa rir ou o que é engraçado ou não. Mas uma característica reconhecida da comédia é que ela é uma diversão intensamente pessoal. Para rir de um fato é necessário re/conhecer (rever, tornar a conhecer) o fato como parte de um valor humano - os homens comuns - a tal ponto que ele deixa de ser mitológico, ameaçador e passa a ser banal, corriqueiro, usual e pode-se portanto rir dele. As pessoas com frequência não conseguem achar as mesmas coisas engraçadas, mas quando o fazem isso pode ajudar a criar laços poderosos.
2 comentários:
Parabéns, Prima ! Excelente como costumam ser sempre seus textos, dos quais sou entusiasmada admiradora !! Um beijo.
Obrigada Maria Laura! Fico feliz que curta e lisonjeada pela admiração e carinho. Bj Bom
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