E nada levaremos, pois que não haverá espaço para as coisas da terra.
Nada levaremos, pois que não haverá espaço para a dor, desilusão, desamor, perda ou rancor.
Pois que seremos brancos e leves. Indecifráveis e poéticos.
E voaremos sem medo. Subiremos tão alto quanto a ventania e os vapores da alma nos permitir.
Desejo esse vôo branco e leve também durante o tempo da terra, porque é nesse tempo que semearemos todo o amor que pudermos sentir. Cada sorriso, gesto, emoção. Nesse tempo encantado em que mãos e braços, boca e olhos podem expressar o que nossas almas desejaram enquanto esperavam iniciar a viagem pelo chão.
Beije, abrace, toque. Olhe com ternura e se emocione sempre.
Chore no cinema, diga poesia no meio do dia, acenda velas no jantar da semana.
Use todas as taças de cristal, o seu melhor vestido, sua melhor frase, sua pior piada.
Use o corpo com dignidade, mas com muita liberdade.
Faça amor em lugares inusitados. Faça amor sempre.
Mande flores, versos, um alô de vez em quando.
Espalhe aqueles objetos pela casa que só têm sentido pra você. Coloque um pingüim em cima da geladeira.
Mude de emprego, de casa, de amor, mude de idéia. Não mude nada se assim o quiser, mas queira sempre e com intensidade, desejar faz com que não paremos de sonhar e nos apaixonar, nos mantém vivos.
Viva intensamente e rodeado de fantasia. A realidade não existe, muda a cada instante. Enquanto dormimos nossos destinos certamente estão sendo desenhados sem que saibamos de nada.
Seja poeta de botequim, de alcova, concreto, discreto. Seja a poesia do seu dia e a descubra no outro.
E nunca tenha medo de parecer ridículo. Não somos o que parecemos. Mas somos nossos gestos mais que nossas atitudes. Viva essa diferença.
E viva com poesia e alegria cada momento...
Até que tudo recomece.
E nos novos caminhos seguiremos povoados uns dos outros, eternizados.
Adriana Florence- do livro Anáguas
Aquarela- Adriana Florence
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