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sábado, 9 de fevereiro de 2013

O Sexo é um espectro do Desejo

A Despedida


Enquanto ainda secavam as gotas de suor entre seus seios e sua alma, e decantavam os sais em seu cansaço, ele desaparecia por detrás do vidro da ampulheta.
Incorporado àquela areia fina feito um beduíno retornando a sua tribo.
Reintegrado às longínquas caravanas.

O tempo, estancado ao seu encantamento, voltava a correr desenfreado, grão por grão, redesenhando castelos conhecidos.

Naquelas horas de prazer e pânico pela despedida anunciada, seu pensamento, soterrado em doce e amargo devaneio, movimentava dunas, violava fundamentos.

Apertava a boca sufocando o sopro diante da partida, e agora se abria simulando tempestades, desafiando o ritmo cortante e frio atrás do vidro reluzente.

Ainda trazia o sal e o desejo espalhados pelo corpo.
A luz se perdia aos poucos pelas fendas anunciando a distância.

Inevitável era o desfazer.
O sol ardia mais forte, mais intenso.
O rastro era salmora.
A água voltou para seu mar.
Não havia mais farol a resgatar seus náufragos.

Rememora,agora, cenas gastas num recôndito insalubre.
O sopro do mistério tardará em revelar-se novamente
Mas virá em seu socorro sob a forma de oásis.

Oásis encantados, inventados.
De corpos alados e flancos transparentes.
Oásis de magia,  tâmaras, romãs e suspiros.
Pontes para o céu.
Um céu de areia,
Flutuando ao redor de suas ilhas

A porta se fecha ao último olhar.
Fica o deserto.
Pra onde sua alma, outrora encantada, retorna cansada.
Seu corpo desintegra suas asas.
Perde seus alados personagens.
Translúcidos, assombrados, assombrando.

Refugia-se em seu interior, quente e úmido.
Cadinho de sua alquimia caprichosa.
A vida lhe chega de repente, mediante os ruídos da rua e do bater de portas.
Esvazia-lhe de expectativas,
De emoção.
Rouba-lhe o enlevo.
Arranca-lhe a última anágua.

Reaparece o abismo.
Reconhece suas fendas.
Mas sopra sobre seus ombros um vento morno
Arrebatada, novamente sobrevoa a aridez da despedida,
Recolhe os vestígios do encontro
Doce, mas enfermo da morte.
O sexo é o espectro do desejo.
Reaviva seus impulsos.
Recolhe os pedaços da vida que lhe sobram.
Abafa seus escrúpulos desmedidos
Sepulta finalmente a covardia.

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