Não me recordo o momento em que decidi ser artista, mas sei que se não me recordo é porque essa memória é muito, muito antiga. Lembro de minha vida a partir dos 22 meses, por incrível que pareça... Mas essa memória em especial me parece ancestral, congênita, hereditária.
Nasci com essa natureza, se posso chamar assim esse parco talento e a imensa vontade de mergulhar meus dias, eternamente, em tintas, frases, pensamentos, movimentos, barro e sentimentos.
Não aprendi a pintar, esculpir ou escrever. Não aprendi a dançar. Acho que não há como aprender o que é nosso e veio colado ao corpo, encharcando a alma.
Há sim, como melhora e desenvolver técnicas e habilidades. Estudar as formas e observar, encantados, o melhor de tudo, os gênios...os banidos, os aclamados. Observar.
Mas no que faço pouco importa a habilidade ou resultado, porque depois que descubro a forma e a vida na matéria branca, inerte, morta, o que resulta não é mais desafio, grito ou silêncio. O que resulta é pano, tinta, frases, barro... e uma tristeza pelo fim .
Mas é enquanto estou fazendo,criando, decobrindo e imaginando ,envolta em prazer e lascívia branda ou furiosa, é ali nesse cerne que reside o melhor, o sentido, a arte.
Um processo estranho de ressurreição do que vive mas só eu percebo , e a morte na sequencia.
Descobrir vida na matéria morta, soprar, e ao terminar tudo voltar a inércia... Até um novo olhar pousar sobre o objeto do trabalho e soprá-lo novamente.
O olhar do espectador trás de volta à vida o que foi criado e morto num só tempo, e no meio, toda a razão da minha existência.
Figurativa ou abstrata...o que importa? Ser artista é uma maneira de estar no mundo, e já somos tão abstratos em nós mesmos.
Arte é coisa pra gente esquisita... apreciá-la,também.
2 comentários:
Adriana, que linda reflexão!
Tão profunda e poética ao mesmo tempo...
Acredito, como você, que há certas coisas que não se aprendem apenas se desenvolvem.
Adorei a pintura que você colocou para ilustrar o texto.
Queria muito ter ido ao seu Open House, conhecê-la pessoalmente e ver todos aqueles trabalhos maravilhosos, mas estava fora do Brasil naquela semana.
Mas não faltará oportunidade.
Aproveito para desejar Boas Festas e que 2013 traga Muita Luz e Inspiração.
Abraço
O dilema de sempre sobre criação, autoria,forma e crítica... Ainda prefiro as reflexões às discussões...diferença substancial entre ser intelectual e ser artista.Sou artista.
Pena que não pôde vir, teria sido um prazer recebê-la. Mas vamos combinar essa visita em 2013!
Luz e inspiração! Mais um tantinho de amor e harmonia, e o céu de 2013 ficará perfeito para gente ser feliz! Te desejo o mesmo. Abraço afetuoso, Adriana
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