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terça-feira, 10 de agosto de 2010

Amor Abrangente

É fato: algumas pessoas não são, nem serão, em tempo algum, de ninguém.
Ouvimos desde a infância dizer que cada pé tem seu sapato, cada panela sua tampa, sua metade da laranja; expressões das tias velhas, tão minhas conhecidas, lá do interior.
Mas algumas pessoas realmente não são de ninguém. Não nasceram para compartilhar a vida numa monogamia de interesses. Há quem deva ser tombado pelo patrimônio, como dizia um amigo nos seus surtos filosóficos. Não seriam jamais de outro, de um só, mas se espalhariam por muitos, muitas. Uma espécie de Orfeu viajante, com a mesma poesia e, quem sabe, o mesmo trágico destino. São providas dos talentos ofertados pelas musas e pela imensa e eterna solidão de quem é de muitos e não é de ninguém. Tem o dom da cura pela arte e pela palavra. A cura da dor porque elas conheceram a dor.
Por mais que achem encantamento, que vejam beleza no afeto e entrega incondicional que os amantes teimam em preservar e fazer perseverarem, essas pessoas tem um sinal, uma sina, uma trilha a seguir. São doadoras peregrinas. E não falo só da doação da matéria que carregam e da sedução natural que possuem, falo da doação de um amor tão grande  que jamais seria possível direcioná-lo a um só ser.
Gente que sabe o que é libido social e amor abrangente...
Orfeus.
Conheci algumas delas e concordo que talvez devesse haver um tipo de Iphan para preservá-las e poupa-las do mesmo fim que teve Orfeu.





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