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No bilhete uma única palavra : Parti.
Não sabia mais para onde ir. Precisava da cantiga de ninar, do berço, das amarras do cordão.
Dos nortes que só a gentileza é capaz de nos mostrar. Da mão alcançando o coração.
A moça era terna e gentil. Era encantada e amada. Amava, dizia. Era a moça debruçada sobre a janela. A senhora da cadeira de balanço, do bordado no bastidor. Era a moça de todos os versos, de todas as canções. Era o ponto de fuga e o infinito. O encontro das linhas da vida na palma da sua mão.
Era ela a menina do candeeiro, e o fogo, e o calor, e a luz.
Era quem o ensolarava.
Os finais, porém, são sempre sombrios e indelicados.
Um poeta azul escreveu: “Fim do amor, breve a dor, basta um longo esquecimento.” Não há mais gentileza nas despedidas. Não há flores, confissões, gratidão ou pesa, e deveria. A dor é maior. A dor dos finais. Os amantes se vão, sem recordações, sem nada a revelar, mesmo que pretendam.
As despedidas não têm mais graça nem lamento. Hoje são só partidas... Verdes partidas. De quem não sabe de onde parte, de quem não conhece o que deixa para trás e menos ainda para onde vai e o que vai encontrar.
Para onde vão os beijos, as mãos enlaçadas, os corpos selados um sobre o outro? Para onde vão os encontros? Onde ficam guardadas as promessas, cumpridas ou não? Onde adormecem as aladas confissões?
O homem verde, não sabe o que sentir. Foi esvaziado. Roubaram-lhe o justo direito do sofrimento, do lamento, do acenar macio dos lenços. Foi-lhe tolhido o luto necessário. A moça simplesmente partiu. Em “educado” silêncio. Não houve discussão ou desencontros, não houve chance ou reconciliações.
Foi só o corte seco de navalha. A Parca girando sem pesar a roca. No fio, o destino. Nada de bordados ou capelas.
Não houve a despedida, somente existiu a partida.
.Verde partida
Trecho do livro Anáguas por Adriana Florence
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