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sábado, 30 de junho de 2012



"Havia pouca luz no térreo naquela madrugada fria.A galeria parecia assombrada pelos personagens dos quadros espalhados por todas as paredes.

Um perfume estranho, adocicado, pairava no ar. Era o incenso dos templos budistas que cercam, como numa fortaleza, os quarteirões do bairro. Um bairro budista, eu diria. Bandeiras coloridas e lilases por toda a parte. E o cheiro do incenso;de jasmim, de almíscar, de cravo, de especiarias diversas.

Viviam imersas, ela e a vizinhança desconhecida, nesses perfumes distantes, e distantes, também, uns dos outros. Era como viajar num tapete voador, olhando do alto os desertos, as fronteiras de areia fina, os oásis e as mesquitas, os panos coloridos. Via-se, num fechar rápido de pálpebras, os pigmentos espalhados pelos terraços e os tapetes nos teares, esperando para serem tingidos.

As mulheres atormentadas pelo vento que teimava em espalhar aquele pó colorido no ar. Um oriente ensolarado e quente, sedutor, despudorado, lascivo e pulsante... lá fora.
Dentro, o frio da espera e a impossibilidade de alcançar quem era. A impotência diante daquelas infinitas memórias emprestadas dos livros e fotografias alheias.

Era sexta-feira.A cidade dormia e, dormindo, era inocente. Cidade calada.
Cidade velada por ela,por tantos insones, os anjo da noite. (...)




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