Despedidas na primavera...
(...) O homenzinho esquálido vagueava soturno: o dia chegava ao seu final. Era preciso voltar para casa. Não sabia mais o caminho. Perdera os números, os nomes, perderam-se os sentidos.
No casaco de tergal surrado, o bolso descosturado protegia, precariamente, um bilhete amarrotado e desbotado pelos olhos.
Quando uma tristeza nos chega através das letras, vorazmente tentamos apagar cada palavra, lendo-as incansavelmente, como se fosse possível aos nossos olhos arrancar a mensagem do papel e perdê-la dentro de nós mesmos. Não é assim que acontece? Perdemos nossas tristezas dentro do corpo, submetidas à nossa alma que sabiamente filtra e devolve-nos, renovada em sentido e aprendizado, o que nos parece somente dor.
O silêncio, eis o pior carrasco. O silêncio aprisiona e não há chance de escapar. Dele nasce a espera e nela nada há de esperança. Qualquer ruído ganha outra dimensão quando não há resposta. No silêncio do outro nossa voz ecoa alta e frágil e a cada palavra desaparecemos dentro de nós mesmos sem identidade. O silêncio do outro aniquila parte do que somos, parte que entregamos de nossa alma.
Era bilhete de moça.
Dizia: Parti.
(...)
Um comentário:
Emocionante!!!
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